Primeiro quero dizer que acho uma besteira, hoje em dia, essa divisão direita-esquerda que alguns ainda traçam. Essa diferenciação ideológica é tão óbvia que reforçá-la se torna banal., além de só servir para acentuar ainda mais as diferenças, que geralmente são de interesses privados. E pior ainda é aquele que bate no peito e se auto-define como sendo de direita ou de esquerda. Não deveria haver nenhum mérito nisso... ser de esquerda automaticamente associa o indivíduo ao comunismo, enquanto ser de direita associa ao nazismo. E claro, ambos carregados de suas devidas atrocidades, seus horrores, afinal, nada de bom é lembrado na hora de tachar alguém (só se tacha alguém ou algo de más qualidades - diferentemente do que ocorre com o verbo homônimo taxar, taxam-se de más ou boas qualidades as pessoas e as coisas).
A atual Ministra-chefe da Casa Civil e candidata à presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores Dilma Roussef, ou também conhecida como a Dilma do Lula, sofreu uma agressão verbal seríssima. Chamaram-na de assassína! Foi o Olavo de Carvalho, aquele filósofo, jornalista e ensaísta de matriz conservadora, quase reacionária, eu diria, considerado um dos poucos intelectuais de direita do país em atividade. Foi lá no programa dele, programa que ele comanda quando lhe dá na telha, no blogtalkradio, o True Outspeak. Uma acusação gravíssima para ser leviana, não? Pois bem, quando o cara falou "assassína" me chamou a atenção, mas logo amenizou dizendo que Dilma pode até não ter matado ninguém, mas por ter feito parte de uma organização terrorista que matava pessoas também era uma assassína. Dilma fazia parte da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, a VAR-Palmares.
E tudo isso para logo em seguida se contradizer. Olavo, em sua ira anti-esquerdista e fanatismo religioso, se perde e se contradiz ao comentar uma matéria que deu no Der Spiegel, quando xinga Otavio Frias Filho por ter publicado a matéria traduzida no UOL, como se a matéria fosse dele.A matéria discorre sobre o número de casos de abusos sexuais cometidos pela Igreja Católica, que continua subindo absurdamente. Sempre que comenta algum crime da igreja, Olavo reverter a culpa aos liberais, citando um certo livro, Good bye good men: How Liberals Brought Corruption Into the Catholic Church, de Michael S. Rose, que trata aspectos da crise de vocações na igreja.
Segundo Olavo, o livro acusa os liberais de serem os responsáveis por um complô contra a igreja. Uma tentativa de destruir a igreja por dentro através do mau uso da psicologia nos processos de admissão e formação dos padres, pela eliminação de candidatos que demonstrassem lealdade para com os ensinamentos e disciplina da Igreja, feitos por supostos "agentes infiltrados", que além da difamação e da desconstrução da doutrina católica, implantou uma subcultura homossexual durante as décadas de 70 e 80 em algumas dioceses dos EUA.
Pois é, parece trama de filme. Ainda segundo Olavo de Carvalho, tudo é baseado em larga pesquisa e é amplamente documentado... vindo dele, digo-lhes... ler o livro é preciso, pois não dá pra confiar no sujeito. Eu já encomendei a minha cópia!
Agora, sendo a igreja essa instituição sem tamanho, muito me espantaria que algum bispo ou arcebispo tomasse uma decisão sem consultar alguém - seja superior ou do mesmo escalão. Por isso, quando o seu Olavo diz que a igreja não pode ser responsabilizada pelo crime de um ou outro padre - como se fossem poucos - está sendo parcial e equivocado. A igreja é culpada sim, pois além de ter intimidado as vítimas exigindo seu silêncio, decidiu omitir os crimes, quis tratar dos abusos "internamente" ao mandar os molestadores para tratamento psicológico antes de os remanejarem para outras comunidades. Julgou-se acima das leis do Estado, e pôs milhares e milhares de crianças em risco de abuso sexual. O próprio papa Bento XVI está atolado de merda até o pescoço, devido a acusações recentes do seu envolvimento na ocultação e transferência de padres pedófilos para outras comunidades. Ou seria, ele também, um dos infiltrados da qual Michael S. Rose acusa?
A igreja precisa se retratar, pedir perdão, implorar clemência... e lidar com a perda de milhares de fiéis - da igreja, não de Deus - no que pode ser chamado de a maior crise que a instituição já enfrentou. E quem sabe assim resolvam retroceder o absurdo do voto de abstinência, que não passa de interesse puramente econômico! Ou permitem o casamento de padres - e arriscam assim que herdeiros metam a mão nos tesouros da Igreja, angariados em nome de Deus - ou, mais fácil, vão acusar os padres de serem comunistas, pois andam comendo todas as criancinhas que encontram...
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