O Auto-Pensante

Women's mind,
by Asky Klafke
O Auto-Pensante
          filosofia barata & amizades caras

28/12/2017

De grupos e opiniões...

... ou o ab(surdo) não h(ouve)



Recentemente fui incluído num "grupo familiar" no WhatsApp. Familiar no sentido família extendida: além de minha tia e alguns primos meus por parte de mãe, tinha tios de minha mãe, primos de minha mãe, e agregados. Primos queridos, que pouco vejo devido à distância, outros ainda mais distantes, que vejo menos ainda, uns que só conheço de nome, e outros que nem de nome conheço. Mas todos parentes!

Como o objetivo era de manter a família unida, resolvi aceitar o convite, afinal, meus (novos) princípios filosóficos regem que não devo restringir meu amor a grupos (por exemplo, a família). Devo, sim, expandí-lo... inclusive à família!

Tudo ia bem, embora muitas mensagens fossem apenas repassadas de outros posts recebidos sabe-se lá de quem, do tipo "tenha um bom dia", "Jesus te ama", "ame o próximo", etc, tudo era muito positivo. Alguns escreviam mensagens originais, outros postavam informações úteis... tudo de bom, enfim! Até que resolveram fazer piadinhas políticas...

Na atual temperatura que anda a cena política brasileira, confesso que deveria ter deixado pra lá, e simplesmente me calado... mas não, resolvi, educadamente, responder e engajar, questionando as idéias-feitas, dizendo que as coisas não eram bem assim como a Rede Globo trompetava, et cetara e tal. Surpresa foi perceber que não se tratava de piadas apenas, mas de verdadeiro ódio contra um partido e seu legado - no caso o PT! Aprendi também que alguns eram (ou foram, ou os pais foram) militares, e que apoiavam a volta do militarismo! E daí em diante, só fez-se crescer um discurso insano (no melhor estilo Bolsonaro!), bradando ódio e intolerância!

Embora não me considere petista, tenho simpatia pela esquerda, que geralmente está mais alinhada à justiça social do que a direita. Neste caso, nem precisava tomar partido, pois debater o malefício que a ditadura militar causou aos direitos humanos e ao Brasil não requer muita munição... E sobre intolerâcia, então? Chega a ser covardia querer discutir intolerância, já que tolerar a intolerância não é uma opção!

Bem, fui tachado de "chato pra caralho". Também fui informado de que eu não tinha o direito de opinar, pois não morava no Brasil! E depois disso tudo, fui sumariamente expulso do grupo!

Seja Whatsup, Facebook ou qualquer outro meio, meus "parentes" me expulsaram do grupo porque foram incapazes de me amar do jeito que sou, ou melhor, do jeito que eles acham que eu sou, pois muitos nem me conhecem! E se não conseguem amar, é porque não há aceitação! E não-aceitação é uma forma de intolerância. E por quê? Porque penso diferentemente do grupo? Ora, quem poderia dizer?

O que mais me espantou, no entanto, foi o fato de que a maioria das pessoas do grupo se dizem "religiosas", e para reforçar essa condição, distribuem correntes de fotos e vídeos com mensagens de amor e solidariedade! Eu, apesar de muitos lá não me conhecerem, ainda sou parente, e teoricamente mais "próximo" que outros "próximos" igualmente desconhecidos, porém não-parentes!

Como disse um amigo meu, no final somos todos seres humanos que necessitam socializar e pertencer. Concordo plenamente, e me reconheço nessa afirmação! O perigo, como já falei, é quando nos agrupamos apenas com iguais, e nossas idéias não têm chance de serem confrontadas, e acabam ganhando força na asserção incontestável, na certeza absoluta, caminho certo para a intolerância ao diferente.

Algumas pessoas se levantaram contra essa execução sumária, mas não adiantou: o grupo conferenciou; o grupo identificou o diferente; o grupo excluiu o diferente.

E a intolerância ganhou, mais uma vez...

4 comments:

Luther said...

Haha, eu consigo me ver na tua posição. Me parece que este tipo de comportamento é típico de brasileiros. Eu também participo do meu grupo familiar, cheio de comentários bregas, te amo daqui, sinto sua falta daqui. De vez enquanto rola um comentário político, muitas das vezes repassando um post que receberam de não sei quem, vericidade é opcional, muitas das vezes indesejado.
O fato é que em geral brasileiros são politicamente imaturos e são raros os grupos sociais e civis que promovam a discussão aberta e construtiva. No no final somos todos humanos, serem pensantes que necessitam compartilhar ideias e pertencer, validação, revalidação. Na falta de algo melhor usamos o Whatsup, Facebook e qualquer outra merda. Desperdício.
No meu grupo, digamos familiar, houve um discussão que não terminou bem e agora virou tabu, não falamos mais sobre política. Nos mantemos com a mesmice da brequice alheia, algumas informações úteis, uma piada racista aqui e ali. E eu me mantenho calado porque no final me sinto culpado de ter que me subjugar a grupos de Whatsup impessoais e fúteis pelo fato de estar longe daqueles que me uma vez me definiram e que no fundo quero acreditar que amo e sou amado. Seres humanos de merda.

Eduardo Miranda said...

Pois é meu amigo, seres humanos de merda, essa é a palavra de ordem! É acredite, não é julgamento não, pois digo isso com amor!

Grande abraço,
Edu

Unknown said...

Estou muito triste em confirmar que não estamos preparados para a discussão, não queremos ser confrotados para que não precisemos pensar, refletir sobre ideias ou ideais, se torna mais fácil se unir a aqueles que nos incentivam a mesmice.
Querido primo entenda o momento desse grupo, da vontade de pisar em terreno conhecido ao invés de se aventurar e conhecer o outro lado da moeda, nunca passaram necessidades, nunca enfrentaram um SUS, uma escola pública da atualidade, pegar ônibus lotado etc.
Eles pregam solidariedade desde que nao seja muito difícil, amor desee que não seja incondicional e caridade sem que seja permanente.
Acho que você nao perdeu muita coisa, o grupo sim perdeu a oportunidade do debate sadio e do exercício do amor.

Edgar

Nizete said...

Muito bom Edu, realmente é sinceramente sinto a sua saída.